Do gramado à raquete: ex-jogadores de futebol reinventam-se no tênis de mesa, beach tennis e além
- Raphael Favilla

- 26 de set.
- 4 min de leitura
A transição de craques dos gramados para as quadras de esportes de raquete vem ganhando espaço no Brasil e no mundo. Seja para manter a forma, resgatar paixões da juventude ou competir em alto nível, nomes conhecidos do futebol têm encontrado em modalidades como o tênis de mesa, o padel e o beach tennis um novo palco para desafiar os limites.
Rodrigo Pimpão: das noites de Libertadores às mesas de tênis

Rodrigo Pimpão, ex-atacante com passagens marcantes por Botafogo, Vasco e clubes do Brasil e da América Latina, voltou às origens esportivas ao retomar o tênis de mesa. Aos 37 anos, participou da 5ª Etapa do Campeonato Paranaense na categoria Absoluto F, entre cerca de 120 inscritos, e chegou à 16ª fase da disputa. O retorno não é apenas simbólico: é também uma forma de estimular o filho Davi, de 12 anos, a praticar um esporte individual e aprender a lidar com responsabilidade, erros e vitórias.
“Feliz por esse momento e acredito que seja somente o início de uma caminhada promissora. O importante disso tudo é voltar a competir, e ter a certeza que resultados vêm do foco mental nos seus objetivos, dedicação, treinamento, qualidade e talento”, disse Pimpão.
A história de Pimpão com o tênis de mesa é antiga: quando criança, montava uma mesa improvisada em casa para jogar com o irmão, começando aulas e, aos 10 anos, já figurava entre os melhores de Santa Catarina. Em 1997, disputou o Campeonato Brasileiro em Fortaleza, alcançando o quinto lugar. Ele sempre enxergou conexão entre as habilidades do tênis de mesa e o futebol:
“Quando eu entrava em campo dava o meu máximo, e no tênis de mesa não é diferente. Entro de corpo e alma para fazer o meu melhor. O tênis de mesa me ajudou muito no futebol, principalmente em tomadas rápidas de decisões, agilidade na decisão das jogadas.”
O retorno competitivo também visa inspirar Davi:
“Falei para o meu filho que seria interessante ele praticar tênis de mesa por ser algo individual, onde a cobrança é sobre ele, a derrota é dele e as decisões nas partidas quem as toma é ele. Acho que é muito importante para um atleta ter essa experiência em um esporte individual para assumir a responsabilidade e os erros.”
Rafael Moura, o “He-Man”, e a vida no beach tennis

Outro caso emblemático é o de Rafael Moura, o “He-Man”. O ex-atacante, com passagens por Fluminense, Internacional e Botafogo, trocou as chuteiras pelas raquetes de beach tennis. Em 2022, estreou em torneios profissionais e, desde então, soma títulos como o BT10 de Palmas, conquistado em dupla com Daniel Maia.
Na Copa das Federações de Beach Tennis, disputada em Fortaleza, vestiu a camisa da Federação Mineira na categoria +40. Moura deixou claro que a transição não é apenas lazer:
“Não há nada social para mim sobre jogar este esporte. Quero realmente ser bom no beach tennis e quero estar entre os 100 melhores do mundo”, disse o atleta de 42 anos, cuja melhor posição no ranking da ITF foi a 178ª, alcançada em novembro de 2023.
A paixão começou de forma casual, mas logo ganhou caráter profissional:
“O esporte com raquete sempre chamou a minha atenção … Eu fui passar férias em Trancoso e Porto Seguro, e lá eu tive o meu primeiro contato com o beach tennis, em frente uma barraca de praia. No meu retorno pra casa, eu já saí de lá com quatro raquetes, uma rede e fitas de marcação. Quis treinar pra alcançar o nível dos outros participantes”.
Outros craques que migraram para a raquete
Esse movimento vai além de Pimpão e Moura. Diversos ex-jogadores de futebol abraçaram modalidades de raquete:
Ricardo Goulart – ex-meia-atacante, campeão por Cruzeiro e Guangzhou Evergrande, venceu torneio de beach tennis na Bahia ao lado da esposa Diane.
Márcio Amoroso – artilheiro da Seleção Brasileira na Copa América de 1999, sagrou-se campeão em circuito de beach tennis na categoria 50+ em Paulínia (SP).
Paulo Roberto Falcão – ícone da Seleção de 1982 e multicampeão pela Roma, sempre destacou o gosto pelo tênis, esporte que pratica desde jovem. Após deixar os gramados, participa de torneios Masters de tênis e padel, mantendo-se próximo às quadras.
Paulo André – o ex-zagueiro campeão mundial pelo Corinthians, em 2012, faturou em junho deste ano seu primeiro título no circuito, no MT 200 de Blumenau, Santa Catarina. O marido da ex-tenista e comentarista da ESPN, Teliana Pereira, tem outra final no currículo em Santos, em sua curta carreira no circuito mundial Masters, que começou há cerca de um ano.
Arouca – ex-volante de Fluminense, Santos e Seleção Brasileira, também se rendeu ao beach tennis, modalidade em que participa de torneios amadores e eventos de ex-jogadores. Já no tênis, Arouca joga o circuito Masters.
Pedro Zandonaide – Campeão Carioca em 1977 pelo Vasco da Gama sobre o Flamengo, Pedro Zandonaide passou a desfrutar nos últimos anos do tênis na categoria Seniors.

Diego Forlán – craque uruguaio, eleito melhor jogador da Copa do Mundo de 2010, passou a disputar torneios Masters de tênis na categoria +45 da ITF.
Arjen Robben – ídolo do Bayern de Munique e da Holanda, ingressou oficialmente no circuito profissional de padel, chegando a disputar torneios da Federação Internacional de Padel.
Wayne Rooney – lenda inglesa, não compete oficialmente, mas tornou-se figura recorrente em torneios e exibições de tênis de mesa.
Zinédine Zidane, Samir Nasri, Patrice Evra e Eden Hazard – todos foram citados em matérias internacionais como praticantes assíduos de padel após a aposentadoria.
O que explica a migração?
Especialistas apontam alguns fatores que tornam os esportes de raquete atrativos para ex-futebolistas:
Competitividade prolongada – permitem manter rotina de treinos e torneios, sem o desgaste físico do futebol profissional.
Baixo impacto físico – especialmente no tênis de mesa e no beach tennis, que oferecem longevidade esportiva.
Transferência de habilidades – reflexos, explosão, coordenação e leitura de jogo ajudam na adaptação.
Aspecto social – torneios de padel e beach tennis têm atmosfera de comunidade, atraindo patrocinadores e público.
Inspiração familiar – muitos voltam ou migram ao esporte como exemplo para os filhos, caso de Pimpão.
Uma tendência em expansão
Os exemplos mostram que a história não acaba com a aposentadoria dos gramados. Pelo contrário: novas páginas se abrem em quadras de saibro, areia ou mesas de tênis. Para os atletas, é a chance de redescobrir o prazer da competição; para os fãs, um reencontro com velhos ídolos em um novo cenário.
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