A Corrida Contra o Tempo: Reflexões Sobre o Tênis Juvenil na Era Digital
- Haroldo Zwetsch Júnior
- 16 de ago.
- 3 min de leitura
Neste novo artigo, Haroldo Zwetsch Júnior — treinador, educador esportivo e referência no tênis juvenil e de alto rendimento — propõe uma reflexão urgente sobre os impactos da era digital no desenvolvimento dos jovens atletas. Com mais de vinte anos de experiência prática e acadêmica, Haroldo mergulha nas contradições entre o ritmo acelerado das redes sociais e o tempo real de aprendizado que o tênis exige.
A partir de sua vivência com famílias, crianças e adolescentes que sonham com a carreira profissional, ele expõe a armadilha das comparações constantes e a ilusão de resultados instantâneos. Ao mesmo tempo, reforça a importância de processos consistentes, da paciência e do respeito ao percurso individual de cada jogador.
Trata-se de uma leitura que transcende a quadra, alcançando pais, treinadores e jovens em busca de equilíbrio entre expectativas e realidade. Um texto provocador, necessário e profundamente humano, que nos convida a repensar a pressa, valorizar o tempo e enxergar o tênis como um caminho de formação integral.
A Corrida Contra o Tempo:
Reflexões Sobre o Tênis Juvenil na Era Digital

Atualmente vivemos cada dia como se estivéssemos dentro de um turbilhão incessante. Acordo e, como milhões de outros, mergulho imediatamente no YouTube, Instagram, TikTok – plataformas repletas de vídeos com novas informações, sejam tutoriais, cursos ou mero entretenimento. Esta quantidade avassaladora de conteúdo nos transmite a sensação de que a vida avança a mil quilômetros por hora, que tudo o que fazemos precisa acompanhar um ritmo frenético de velocidade.
E, mais perturbador ainda, surge o sentimento persistente: "o outro está fazendo, então eu preciso fazer/parecer/estar/viver igual". Que frenesi! Uma loucura contra o tempo e contra tudo o que representa moderação e reflexão.
Nessa mesma analogia vejo o dia a dia do tênis juvenil. Famílias, pais, mães e jovens jogadores numa corrida interminável contra o tempo, sempre se comparando com o que "o próximo está fazendo". Utilizam as mesmas estratégias das redes sociais, buscando apenas as facetas "lindas" que são compartilhadas, pois estas plataformas se tornaram nossa televisão oficial!
O problema é que Instagram, TikTok e similares mostram, na maioria dos posts, que todos são "ótimos/vencedores/experts/vitoriosos" entre outros adjetivos superlativos. Com isso, vivemos uma falsa realidade de que "nossa, eles estão melhores que eu, preciso correr atrás e ter/mostrar/viver as mesmas emoções e experiências".
Só que não é assim. Observo muitos pais que assistem a vários tutoriais ou vídeos de tênis e acreditam estar aptos a opinar categoricamente sobre a modalidade, pois a internet democratizou o título de "expert". Todos se tornaram especialistas em tênis porque leram alguma coisa na internet ou assistiram a alguns vídeos técnicos.
Trazendo toda essa argumentação para a prática e realidade, afirmo com convicção: não existe um caminho mágico ou uma fórmula milagrosa. O que existe é prática consistente, organizada e sistemática, baseada em conhecimentos sólidos que, juntos, proporcionarão evolução, aprendizado e, talvez – apenas talvez – sucesso na carreira tenística.
Mas também afirmo categoricamente que dá para ser tenista profissional, sim, e ter uma carreira vitoriosa. Basta ficar no tênis e se especializar como em qualquer outra profissão, só que demora tempo, muito tempo e, como muitos adultos sabem, tiveram muitos baixos e poucos altos até alcançar o sucesso desejado no que se propuseram a fazer.
Muitas famílias buscam culpados pelo não-sucesso momentâneo do filho, que tem apenas 10, 11, 12 anos, e acreditam que a criança deve ser invariavelmente vitoriosa. Não enxergam outros fatores fundamentais que merecem atenção. Cada criança, cada indivíduo tem seu próprio tempo de aprendizado, que nem sempre segue uma trajetória linear ou previsível.
O desenvolvimento no tênis, como na vida, não é um espetáculo constante de vitórias e conquistas. É um processo complexo, com altos e baixos, que demanda paciência, persistência e, acima de tudo, respeito ao tempo individual de cada jovem atleta.
Reflitamos sobre isso antes de nos deixarmos arrastar pela corrente frenética das comparações digitais e expectativas irreais.
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