Análise: a derrota de Fonseca em números, na estreia em Portugal
- Raphael Favilla

- 30 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de mai.

João Fonseca, nosso prodígio de 18 anos, número 1 do Brasil e 65º do mundo, foi surpreendido logo na estreia do Challenger do Estoril. O algoz? Jesper de Jong, holandês de 24 anos, 93º do ranking, que fez 6/2 e 7/5 em 1h15 de partida. E olha, não foi só o placar que doeu: foi a forma como aconteceu.
Vamos aos fatos. O início foi um atropelo: De Jong abriu 3/0 rapidinho, não enfrentou break points e, mesmo com a quadra lenta e pesada, impôs um tênis agressivo, sacando muito bem e tirando o tempo do brasileiro.
No primeiro set, Fonseca só conseguiu três pontinhos nos games de saque do adversário. No segundo, o roteiro parecia o mesmo: 3/0 pro holandês. João até reagiu, buscou o empate, mas De Jong não deu mais chances. Fez 17 a 11 nos winners e cometeu 14 erros não forçados, contra 25 do carioca. Números que contam a história sem precisar de legenda.
“O diretor do torneio de Estoril acreditou em mim quando eu ainda não era tão bom. Sou grato por isso. Espero voltar um dia. Para mim, jogar aqui foi um pouco como jogar no Rio", disse Fonseca, após a partida.
“Eu gosto muito de jogar em Estoril, é triste eu ter perdido duas vezes na primeira rodada, mas é saber aprender e sei que essas experiências vão me fortalecer. Preciso de um pouco mais de ritmo no saibro, estou muito com a cabeça na quadra rápida ainda. Gosto muito de jogar no saibro e venho fazendo bons treinos, mas preciso ter mais paciência e sei que mais jogos e mais experiência vão me ajudar com isso. Agora é seguir focado na minha preparação para Roma”.
“Não joguei mal, mas não joguei muito bem também. Acho que o De Jong entrou muito solto, fazendo saque e voleio, drop shots… Fiquei um pouco surpreso, mais tenso que o normal. Tive chances de retomar a partida, mas acabei falhando um pouco mais e não deixei ele ficar com aquela dúvida de ‘será que ele vai me pegar?’ Foi total mérito dele, mas quero mais”, completou.
Foi, sim, a pior atuação do Fonseca desde o Rio Open, como alguns leitores já apontaram em comentários espalhados pelas redes sociais. E não é só questão de resultado: foi postura, foi falta de repertório, foi um festival de erros não forçados. Parecia que o João não estava ali – e, se estava, esqueceu o melhor tênis no vestiário.
Muita gente já começou o “oba-oba” reverso: “Ah, estão endeusando o menino”, “A imprensa coloca ele como novo Guga”, “Tem que baixar a bola”. E, olha, não dá pra discordar totalmente. O hype em cima do Fonseca é real, e a pressão, também.
O circuito não perdoa: todo mundo estuda, todo mundo acha brecha. O holandês, por exemplo, abusou das curtinhas, variou o jogo, não deixou o João confortável. E, convenhamos, o Fonseca ainda precisa aprender a lidar com isso. Não é só talento e forehand pesado que resolvem.
Teve quem dissesse que foi “derrota constrangedora”. Calma lá. O De Jong está no melhor ranking da carreira, entrou no top 100 agora, e jogou o tênis da vida. Mas, sim, dava pra passar. E, sim, é normal perder pra um top 100 – mas é preciso mostrar mais, principalmente quando se é tratado como fenômeno.
No fim das contas, o que fica? Que Fonseca é um tenista em formação, que vai perder jogos assim, que vai apanhar, que vai ser estudado e vai precisar se reinventar. O circuito é cruel, não espera ninguém.
Agora é Roma, Masters 1000, onde o nível só sobe. Que a derrota sirva de lição – e que a torcida, a imprensa e o próprio Fonseca entendam: hype não ganha jogo. E você, leitor, acha que o oba-oba atrapalha ou é só parte do processo?
A derrota no detalhe, em números
Winners e erros não forçados: De Jong fez 17 winners contra 11 do Fonseca. Nos erros não forçados, o brasileiro entregou 25, enquanto o holandês ficou em 14. Ou seja, o holandês foi mais agressivo e, ao mesmo tempo, mais sólido. Não é fácil fazer as duas coisas ao mesmo tempo, mas De Jong conseguiu.
Primeiro saque: Fonseca colocou só 58% do primeiro saque em quadra, contra 67% do De Jong. E, quando o primeiro saque entrou, Fonseca ganhou 63% dos pontos, enquanto o holandês levou 81%. Isso é brutal. No tênis de hoje, se você não protege o saque, vira presa fácil.
Segundo saque: Aqui, o buraco ficou ainda maior: Fonseca ganhou só 38% dos pontos com o segundo saque, contra 56% do De Jong. Traduzindo: toda vez que o brasileiro precisava de um segundo serviço, era quase um convite para o adversário atacar.
Break points: De Jong salvou todos os break points que enfrentou (3/3), enquanto Fonseca só salvou 1 de 5. Ou seja, o holandês foi cirúrgico nas chances que teve, e o brasileiro não conseguiu aproveitar as poucas oportunidades.
Pontos totais: De Jong venceu 68 pontos no total, contra 52 do Fonseca. Não parece tanto, mas no tênis, essa diferença é enorme, principalmente em um jogo de dois sets.
Games de saque: O holandês não teve o serviço quebrado nenhuma vez. Fonseca perdeu o saque três vezes. E, detalhe: De Jong cedeu só 10 pontos em todos os seus games de serviço no jogo inteiro. Isso é quase um saque de John Isner em dia inspirado.
Curtinhas e variação: Não tem número oficial, mas quem viu o jogo percebeu: De Jong abusou das curtinhas, tirou o Fonseca da zona de conforto e fez o brasileiro correr pra frente, onde ele ainda tem dificuldades. Estratégia simples, mas eficiente.
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Achei a análise muito generalista. O 1⁰ set é um e o 2⁰ é outro. Aí sim, poderia haver maior crença. O 2⁰ foi 7x5...
Quanta gente toma zero no primeiro e ganhou os dois seguintes. Uma coisa é ser quebrado nos primeiros games e correr atrás do rabo o set inteiro. Outra totalmente diferente é perder o game no 5x5. Aí é a expectativa de vencer o 3⁰ set - depois de ter sido atropelado no 1⁰ - que pesa ... e desconcentra.
Calma com o menino. Daqui a um ano será o cara a ser batido (já o é um pouco pela exposição nas quadras centrais e expectativa sobre ele) e em 3 anos TOP 3, lutando pelo…
Matéria excelente !
Concordo com a análise feita.
Parabéns !
Paulo Bassani
Bela análise!