Bastidores e repercussão do rompimento entre Alcaraz e Ferrero expõem motivos, rumores e definição do novo treinador
- Raphael Favilla

- há 13 horas
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No momento em que iniciava a preparação para a nova temporada, com a meta imediata de conquistar o único título de Grand Slam que ainda lhe falta, Carlos Alcaraz provocou um forte impacto no mundo do tênis ao anunciar o fim da parceria com Juan Carlos Ferrero. Foram oito temporadas de trabalho conjunto e enorme sucesso, em uma ruptura que surpreendeu até mesmo a imprensa espanhola, tradicionalmente bem informada sobre os bastidores de seus principais jogadores.

O anúncio foi feito por Alcaraz por meio das redes sociais, em tom amistoso, repleto de agradecimentos e elogios. Pouco depois, Ferrero também se manifestou publicamente, mas com uma frase que ganhou grande repercussão. “Gostaria de ter continuado”, escreveu o treinador, dando a entender que a decisão não partiu dele, apesar do discurso cordial adotado por ambos.
Não há discussão sobre a importância de Ferrero na formação de Alcaraz. O treinador passou a orientar o espanhol ainda com 15 anos, logo após encerrar sua parceria com o alemão Alexander Zverev. Foi ele quem moldou o tênis do jovem murciano, em um trabalho paciente e de longo prazo que extraiu o máximo de seu talento.
Juntos, conquistaram 24 títulos no circuito da ATP, seis deles de nível Grand Slam, alcançaram a liderança do ranking mundial em duas ocasiões e somaram 50 semanas no topo. Em 2025, a parceria viveu sua melhor temporada em termos de números, nível técnico e feitos, o que tornou a separação ainda mais inesperada.
Sinais de desgaste e mudanças na equipe
Apesar do sucesso, alguns sinais de desgaste já haviam surgido. Desde o início de 2024, Samuel López passou a dividir a função de treinador e as viagens com Alcaraz, movimento interpretado nos bastidores como um indício de que ajustes eram necessários.
No fim de 2023, após resultados considerados fracos, Ferrero fez críticas públicas à postura do jogador e cobrou mais profissionalismo. “O ano não termina em setembro”, afirmou na ocasião, em referência direta à gestão de calendário e à atitude do número 1 do mundo. A chegada de López ajudou a reduzir a tensão interna, e agora ele assumirá de forma definitiva o comando técnico.
Calendário, disciplina e exibições em debate
Sem uma explicação oficial sobre os motivos da ruptura, os rumores se multiplicaram. Ferrero sempre teve um perfil disciplinador e nunca poupou críticas ou ironias em relação ao comportamento mais relaxado de Alcaraz em determinadas situações.
Analistas espanhóis também apontam o calendário intenso como fator de desgaste. Alcaraz disputou 80 partidas na temporada, mesmo tendo ficado fora de Madri, Xangai e da fase final da Copa Davis. Nos três casos, as ausências foram motivadas por questões físicas surgidas durante a participação em torneios menores.
Outro ponto citado com frequência é a presença constante do espanhol em eventos de exibição, como o Six Kings Slam, a Laver Cup e os recentes confrontos nos Estados Unidos contra Frances Tiafoe e João Fonseca, compromissos que, segundo avaliações internas, acabaram interferindo diretamente na pré-temporada.
Toni Nadal e Feliciano López analisam a ruptura
O assunto dominou o noticiário esportivo espanhol. No programa Radioestadio Noche, da Onda Cero, Toni Nadal se disse surpreso com o fim da parceria após uma temporada tão positiva. “Fiquei surpreso, não esperava isso depois de uma temporada tão boa, com dois títulos de Grand Slam e na posição de número 1”, afirmou.
Para o tio de Rafael Nadal, a decisão partiu do jogador. “Entendo que a decisão seja de Carlos, pois Ferrero declarou que deseja continuar, então imagino que a decisão não esteja relacionada ao tênis”, avaliou. Toni também fez uma reflexão mais ampla sobre a relação treinador–jogador no circuito. “Os relacionamentos no mundo do tênis são difíceis porque quem paga, o jogador, geralmente paga para ouvir o que quer ouvir”, disse, antes de minimizar impactos esportivos: “Não creio que isso vá afetar Alcaraz, pois ele é um excelente jogador de tênis”.
Já Feliciano López, ex-tenista profissional e atual diretor do Masters 1000 de Madri, adotou um tom mais cauteloso no programa El Partidazo de COPE. “Estou triste e surpreso. Acho que foi um pouco cedo demais para deixar de trabalhar com Juan Carlos, que foi a pessoa mais importante de sua carreira junto com seu pai”, afirmou. Para ele, a substituição de Ferrero será um grande desafio. “Vai ser muito difícil encontrar uma pessoa que se adapte à vida de Carlos e a seu entorno”, destacou.
Divergência financeira ganha força como explicação
As especulações ganharam contornos mais objetivos quando a Cadena COPE e a RNE Deportes apontaram divergências financeiras como o principal motivo da separação. Segundo as duas emissoras, não houve problemas de relacionamento ou de trabalho, mas sim um desacordo nos valores contratuais para a temporada de 2026.
O jornalista Ángel García Muñiz, da COPE, citou ainda um possível conflito de interesses envolvendo as academias de ambos, além do desgaste provocado pelas constantes viagens. Já a RNE informou que o rompimento teria ocorrido durante uma reunião recente para discutir o contrato de Ferrero. “Houve uma discussão ou desacordo nessa reunião sem que se saiba ainda o motivo”, relatou o jornalista Javier de Diego.
Samuel López é confirmado como novo treinador
Paralelamente às discussões sobre os motivos da ruptura, a equipe de Alcaraz definiu rapidamente o comando técnico para a próxima temporada. Samuel López, que já trabalhava ao lado de Ferrero, foi confirmado como o novo treinador do número 1 do mundo.

Segundo revelou Ángel García, da COPE, mais de cinco treinadores se ofereceram para trabalhar com o murciano nas últimas horas, mas todos foram rejeitados após a decisão interna de manter López à frente da equipe, ao menos por enquanto. Os demais integrantes do time seguem no projeto, e apenas Ferrero deixa o grupo.
Com 55 anos, López nasceu em Alicante e integra o entorno de Alcaraz desde o fim de 2014, quando atuava como funcionário da Ferrero Tennis Academy. Ele iniciou sua carreira de treinador ao lado de Antonio Martínez Cascales, mentor de Ferrero, antes de fundar a Equelite, onde desenvolveu grande parte de sua trajetória profissional.
Na academia, trabalhou com nomes como Guillermo García-López e o polonês Mariusz Fyrstenberg, antes de assumir, em novembro de 2015, o comando da carreira de Pablo Carreño. Sob sua orientação, Carreño conquistou sete títulos, chegou a duas semifinais do US Open, às quartas de final de Roland Garros e conquistou o bronze olímpico em Tóquio 2020, após vencer Novak Djokovic na semifinal.
Em 2024, López encerrou a parceria com Carreño e, em janeiro, acompanhou Alcaraz no Australian Open, substituindo Ferrero, que se recuperava de uma cirurgia no joelho. O trabalho fluiu bem e, pouco depois, ele foi oficializado como integrante da comissão técnica do líder do ranking. No início de 2026, passa a ser o principal treinador do espanhol.
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