Italianos brilham e polêmica marca novo formato das duplas mistas no US Open 2025
- Raphael Favilla
- 21 de ago.
- 4 min de leitura
O US Open 2025 entrou para a história ao reformular radicalmente o torneio de duplas mistas, antecipando a disputa para a semana anterior à chave principal e apostando em um formato mais curto, recheado de estrelas do simples e com premiação recorde. No fim, a vitória ficou com a única dupla formada por especialistas: os italianos Sara Errani e Andrea Vavassori, que conquistaram o bicampeonato ao baterem Iga Swiatek e Casper Ruud na final por 6/3, 5/7 e 10/6, em 1h32min de jogo na Arthur Ashe Stadium.

O novo formato: inovação ou desrespeito?
A edição 2025 das duplas mistas foi marcada por mudanças profundas. O torneio foi deslocado para a chamada "Fan Week", com chave reduzida de 32 para 16 duplas, jogos mais curtos (sets de 4 games até a semi, 6 na final, sem vantagem no 40 iguais e super tie-break no terceiro set) e classificação baseada no ranking de simples, não de duplas. O objetivo declarado da organização foi atrair grandes nomes e dar mais visibilidade ao evento, além de igualar a premiação das duplas mistas à das masculinas e femininas: US$ 1 milhão para os campeões, um aumento de 500% em relação a 2024.
A decisão, porém, dividiu opiniões. Especialistas em duplas e ex-campeões criticaram duramente a mudança. Sara Errani e Andrea Vavassori, inclusive, protestaram publicamente quando o novo formato foi anunciado, no início do ano
“Tomar decisões apenas pela lógica do lucro é profundamente errado em algumas situações. Uma pseudoexibição focada apenas no entretenimento é uma injustiça e um desrespeito com uma classe inteira de jogadores.”
A francesa Kristina Mladenovic, multicampeã de duplas, também foi enfática:
“Do ponto de vista do negócio, é brilhante. Mas, pela perspectiva esportiva, estão alterando a essência do esporte, e isso é um grande problema. Pode chamar de qualquer coisa, menos de Grand Slam.”
Por outro lado, o diretor da USTA, Lew Sherr, defendeu a inovação:
“Sabemos que é uma chance imensa de criar interesse global pelas duplas e que pode gerar um efeito cascata, aumentando os holofotes também nas competições masculinas e femininas, que começam na semana seguinte.”
Repercussão entre fãs e mídia
A presença de estrelas como Alcaraz, Raducanu, Djokovic, Swiatek e Venus Williams atraiu enorme atenção do público, especialmente nas redes sociais e na imprensa internacional. O clima de entretenimento foi reforçado por parcerias inusitadas, como a de Alcaraz e Raducanu, que empolgaram os fãs mesmo sendo eliminados na estreia.
No entanto, muitos torcedores tradicionais e comentaristas questionaram a descaracterização do torneio, apontando que a maioria das duplas era formada por simplistas e que apenas Errani e Vavassori eram duplistas de fato.
A nova dinâmica, com sets curtos até quatro games, sem vantagem e match tiebreak de 10 pontos, foi pensada para tornar os jogos mais dinâmicos e atrair o público jovem. O resultado foi imediato: o Arthur Ashe Stadium ficou lotado para acompanhar as partidas, algo inédito para a modalidade. O jornalista Ben Rothenberg, em publicação no X (antigo Twitter), resumiu o impacto:
“O enorme Arthur Ashe Stadium está praticamente lotado já para as duplas mistas do #USOpen, antes mesmo de qualquer jogador entrar em quadra. É seguro dizer que o US Open vai repetir esse conceito em 2026; a questão é quantos outros Slams vão copiar, e quão rápido.”
Por outro lado, a mudança foi alvo de críticas de especialistas em duplas e de jogadores que se sentiram excluídos do novo formato. O polonês Jan Zieliński, campeão de duplas mistas do Australian Open e de Wimbledon em 2024, expressou sua insatisfação nas redes sociais:
“Sem comunicação com os jogadores, sem pensar no que isso significa para a carreira de alguns, sem respeito pela história e tradições. Triste de ver.”
O triunfo dos especialistas
No fim, a vitória foi celebrada como um triunfo dos especialistas em duplas, superando parcerias estreladas mas sem entrosamento, mostrando a força do jogo coletivo.
“Essa é uma conquista para todos os jogadores de duplas que não puderam jogar o torneio. Este troféu também é para eles”, disse Errani na cerimônia de premiação. Vavassori complementou, agradecendo ao público: “Muito obrigado pela energia, é inacreditável jogar diante de vocês. Mostramos hoje que as duplas são um ótimo produto. O nível da final foi inacreditável, com muitos pontos bonitos”.
“Hoje foi muito difícil... é um prazer estar ao seu lado, Andrea. Inesquecível, é muito bom jogar ao seu lado. Agradeço à torcida, jogar para vocês é incrível e ficaram até tarde da noite", Errani finalizou.
Balanço: formato aprovado?
O novo formato cumpriu o objetivo de gerar repercussão e audiência, mas não foi unanimidade. A crítica mais recorrente foi a desvalorização dos duplistas e a transformação do torneio em um show de entretenimento, com menos espaço para o jogo tático e coletivo que caracteriza as duplas mistas tradicionais. Por outro lado, a presença de grandes nomes e a premiação recorde deram visibilidade inédita ao evento.
A vitória de Errani e Vavassori, únicos duplistas puros na chave, foi amplamente enaltecida por especialistas e fãs como uma resposta esportiva à polêmica: o entrosamento e a técnica das duplas ainda fazem diferença, mesmo em meio ao espetáculo.
Comentários