O que o Tênis ensina que a escola nunca vai ensinar

Neste artigo, Haroldo Zwetsch Júnior — gaúcho, educador esportivo, treinador de alto rendimento e com mais de duas décadas de experiência prática e pedagógica no tênis — compartilha uma reflexão sensível e poderosa sobre a jornada individual do tenista. Com base em vivências acumuladas nas quadras, projetos sociais e centros de treinamento de alto nível, Haroldo nos conduz por uma leitura que transcende o esporte e revela o tênis como um espelho da vida: com seus recomeços, desafios solitários, decisões rápidas e lições permanentes. Um texto essencial para pais, atletas, técnicos e apaixonados pela complexidade silenciosa deste esporte singular. Confira!

Uma Jornada Solitária de Autodescoberta

No universo dos esportes, acredito que existe um caminho natural e quase inevitável: primeiro entramos, depois aprendemos, então nos apaixonamos e, finalmente, competimos. Esta sequência, aparentemente simples, esconde a profundidade do que significa verdadeiramente abraçar uma modalidade esportiva.

O tênis, em particular, é um esporte de extraordinária complexidade. Não se trata apenas de rebater uma bola — é uma arte que demanda treino meticuloso, disciplina, dedicação constante e incontáveis repetições. A resiliência torna-se nossa companheira diária. Além disso, exige-se de nós uma preparação atlética excepcional, capaz de sustentar partidas que, mesmo em categorias amadoras ou juvenis, frequentemente se estendem por horas.

Os fundamentos técnicos são essenciais, certamente, mas há algo fascinante na individualidade que cada jogador imprime ao jogo. Os golpes são universais — forehand, backhand, voleio, saque — mas a maneira como cada tenista os executa e os escolhe é profundamente pessoal. As decisões instantâneas sobre onde posicionar a bola, a intensidade do golpe, a altura da trajetória, a execução de um drop-shot inesperado quando a probabilidade de êxito parece mínima — tudo isso revela a singularidade de cada jogador.

É um jogo de infinitas possibilidades criativas, dividido em múltiplos atos. Cada game começa do zero, oferecendo uma mini-narrativa dentro da história maior. Quando se encerra um set, tudo recomeça, propiciando ao jogador em desvantagem a oportunidade de reescrever seu destino. Esta estrutura única de recomeços constantes transforma o tênis em algo muito maior que um simples embate físico.

O tênis é, acima de tudo, um jogo mental. Na quadra, estamos fundamentalmente sós, sem técnicos sussurrando estratégias, sem companheiros compartilhando o fardo. Somos nós, a raquete e nossos pensamentos, enfrentando não apenas o adversário, mas nossas próprias limitações. Ali lidamos com as consequências de cada decisão — as brilhantes e as desastrosas —, navegamos entre frustrações e momentos de glória, administramos o cansaço físico e buscamos reservas de energia quando tudo parece perdido.

E isso me leva à questão que frequentemente escuto de pais: o que o tênis realmente ensina para a vida? Vale a pena submeter seu filho a este microcosmo de desafios?

Minha resposta é inequívoca: se você busca uma escola de vida completa, deixe-o aprender tênis. Permita que seu filho se divirta nas quadras, que reclame quando as coisas não funcionarem, que brigue consigo mesmo, que lute ponto a ponto, que supere seus limites e, principalmente, que lide sozinho com a derrota e a vitória. Não existe lição mais valiosa no currículo da escola competitiva que é o esporte.

O tênis, em sua aparente simplicidade de golpear uma bola, esconde talvez o mais sofisticado laboratório para o desenvolvimento humano. A quadra retangular, com suas linhas brancas claramente definidas, torna-se o palco onde aprendemos algumas das mais importantes e complexas lições que levaremos para toda a vida.