Sonho realizado: Thalita Rodrigues lidera o primeiro nacional de Para-Standing Tennis em Brasília
- Gustavo Werneck

- 21 de out.
- 4 min de leitura
A capital nacional viveu um fim de semana que ficará marcado na história do esporte adaptado brasileiro. Às margens do Lago Paranoá, o Clube do Exército recebeu o primeiro torneio nacional de Para-Standing Tennis, reunindo atletas de diferentes estados e histórias de superação que transformaram o evento em muito mais que uma competição: foi um manifesto por visibilidade, inclusão e respeito.


A iniciativa partiu da brasiliense Thalita Rodrigues, 34 anos, atleta e professora, que há seis anos vem batalhando para consolidar no Brasil a modalidade que mudou a própria vida. O Para-Standing Tennis (PST) é voltado a pessoas com deficiência física que não utilizam cadeira de rodas, mas convivem com amputações, próteses ou outras limitações motoras. É reconhecido pela Federação Internacional de Tênis (ITF) e já conta com mais de 500 atletas em 45 países.

“Estou realizando um sonho antigo. Foram anos tentando trazer o torneio nacional para o Brasil, e vê-lo acontecer aqui em Brasília, na minha casa, é algo que me emociona demais”, disse Thalita, entre abraços e raquetes erguidas após as finais. “A galera veio de várias regiões, com histórias incríveis. O clima foi de celebração, de pertencimento. Espero que esse seja apenas o primeiro de muitos eventos que ainda vamos organizar”, completou.
Um torneio, muitos recomeços
As quadras do Clube do Exército reuniram atletas que desafiam o impossível diariamente. Entre os destaques, o gaúcho Aurio Fortunato ergueu o troféu da categoria ST2 depois de uma final disputadíssima. Ele vibrou com a conquista e destacou a estrutura do torneio. “A organização está incrível, o ambiente é acolhedor e competitivo ao mesmo tempo. O adversário jogou muito, e cada ponto foi uma batalha. Conseguir vencer aqui, no primeiro nacional, é algo que vou guardar pra sempre”, contou, sorrindo com o troféu nas mãos.

Fortunato aproveitou para fazer um apelo. “A gente precisa de mais apoio, de empresas e federações. O custo para disputar torneios internacionais é alto e ainda viajamos com recursos próprios. O Para-Standing tem potencial, mas precisamos de visibilidade e patrocínio para crescer”, afirmou.
Apesar da ausência de apoio institucional direto, o torneio contou com parcerias privadas, voluntários e apoio técnico local. A Confederação Brasileira de Tênis chegou a colaborar com atletas da modalidade no Mundial de 2023, mas ainda não há vínculo formal. “Ano passado tivemos ajuda para ir ao Mundial, mas neste ano não houve esse suporte. Ainda assim, seguimos firmes. O importante é que o movimento está crescendo”, destacou Aurio.
A força de uma pioneira
Nenhum nome se tornou tão sinônimo de Para-Standing Tennis no Brasil quanto o de Thalita Rodrigues. Número 1 do ranking feminino mundial, segundo o site oficial parastandingtennis.com, ela representa o Brasil em competições desde 2019 e vem ampliando o alcance do esporte no país.

Em 2024, Thalita foi uma das poucas atletas latino-americanas a disputar o US Open de Para-Standing Tennis, em Nova York, e também participou do Mundial de Turim, na Itália. “Estar em um Grand Slam foi surreal. A gente sonha em competir ao lado dos grandes nomes do tênis, e lá fomos tratados como profissionais de elite. Essa experiência me deu certeza de que o Para-Standing vai explodir nos próximos anos”, contou.
Em Brasília, ela não apenas organizou o evento, mas também brilhou em quadra, conquistando o título da categoria PST1 e chegando à final de duplas. “Foi lindo ver o quanto todos se esforçaram pra fazer acontecer. O torneio ficou com uma energia única, uma mistura de alegria, amizade e superação. Cada atleta aqui merece reconhecimento”, disse Thalita, emocionada durante o almoço de confraternização.

Um movimento que vai além do esporte
Mais do que competir, os atletas de Para-Standing Tennis têm usado o esporte como ferramenta de transformação. Muitos são ex-militares, vítimas de acidentes de trânsito ou pessoas que redescobriram a vida através da raquete. O torneio em Brasília reuniu histórias que inspiram, e que mostram o poder do tênis como instrumento de inclusão.
“Acho que o mais bonito é ver que cada um de nós, com nossas limitações, encontrou no esporte uma nova forma de viver. Não se trata de deficiência, mas de potência. É sobre o que a gente ainda pode fazer, e não sobre o que perdeu”, disse Thalita em uma das entrevistas concedidas durante o evento.

Fora das quadras, a brasiliense também se destaca por iniciativas sociais. Em setembro, foi diretora técnica do 1º Aberto de Tênis Solidário – Saque essa Ideia em Defesa das Mulheres e Contra o Feminicídio, realizado no Clube Naval, em parceria com o Jornal de Brasília. O torneio arrecadou fundos e deu visibilidade à luta contra a violência de gênero.
“O tênis é uma plataforma poderosa. Se ele pode abrir portas para mulheres e pessoas com deficiência, então já estamos mudando o mundo de algum jeito”, resumiu Thalita.
O futuro começa aqui
O sucesso do torneio nacional já inspira novos planos. A organização pretende tornar o evento anual e sonha em trazer para o Brasil uma etapa internacional do circuito mundial, com Brasília como sede. Segundo Thalita, já há conversas preliminares com representantes do Para-Standing Tennis Global.

“Esse foi só o primeiro passo. Agora queremos atrair mais jogadores, mais apoio e mais reconhecimento. O Para-Standing é sobre superação, mas também sobre igualdade. Todos nós queremos apenas jogar tênis, e mostrar que podemos competir em alto nível”, disse ela, encerrando o torneio sob aplausos.
O que começou como um projeto pessoal hoje se transforma num movimento nacional. Brasília não apenas sediou um campeonato — criou um marco na história do tênis inclusivo brasileiro. E, se depender de Thalita Rodrigues, será apenas o primeiro de muitos capítulos que ainda virão.
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Que matéria sensacional. Os atletas do Para-Standing Tennis são uma inspiração para qualquer pessoa. Eles demonstram enorme força física e mental para superar as adversidades e seguir adiante. Belo exemplo a ser seguido. Parabéns a Thalita pela brilhante carreira até aqui. Tem muito mais por vir, com certeza. Parabéns também pela linda iniciativa de buscar apoio ao Para-Standing Tennis. Parabéns aos atletas da modalidade pela dedicação ao esporte, disciplina e resultados alcançados. Vocês são um orgulho.