A ideia que virou fenômeno: o sucesso da Laver Cup
- Raphael Favilla

- 19 de set.
- 7 min de leitura
Atualizado: 19 de set.

Quando Roger Federer anunciou, em 2017, a criação de um torneio por equipes inspirado na Ryder Cup do golfe, muitos torceram o nariz. O circuito já parecia abarrotado de competições, e a novidade soava mais como uma excentricidade de uma lenda do que como algo destinado a entrar de vez no calendário. Poucos acreditavam que o conceito teria fôlego, mas, passados apenas alguns anos, a Laver Cup se transformou em um fenômeno esportivo, midiático e emocional — e hoje é vista como parte indispensável da narrativa do tênis moderno.
A oitava edição da Laver Cup tem início nesta sexta-feira em São Francisco, e pela primeira vez terá um brasileiro em quadra. O carioca João Fonseca, de 19 anos, faz parte do Time Mundo e estreia no primeiro dia de competição, às 23h (de Brasília) contra o italiano Flavio Cobolli, abrindo a sessão noturna. A transmissão para o Brasil é da ESPN e Disney+.
Um pouco de história
Inspirada na tradicional Ryder Cup do golfe profissional, a Laver Cup é uma disputa entre duas equipes, o Time Europa e o Time Mundo. A competição, que tem a empresa Team8, de Federer, como uma das promotoras, acontece durante três dias, sexta, sábado e domingo. A cada dia, são disputados quatro jogos, três de simples e um de duplas, todos em melhor de três sets, porém o terceiro set será um match-tiebreak (até 10 pontos). Entre as plataformas que mais pagam, a equipe Europa tem grande favoritismo, pagando 35% sobre o valor investido, enquanto o Mundo aparece como ‘zebra’ e oferece 3,2 vezes o valor apostado. Depois de duas edições de caráter amistoso, mas com os tenistas orientados a jogar seu melhor, a ATP decidiu oficializar o torneio e contabilizar as vitórias no currículo dos participantes.
O grande mérito de Federer foi enxergar que o esporte precisava de algo além da disputa individual, que sempre foi a essência do tênis. A chance de reunir gerações, colocar rivais lado a lado e criar uma atmosfera de espetáculo deu à competição uma identidade única. A primeira edição em Praga, em 2017, já deixou claro o impacto: ingressos esgotados rapidamente, arenas lotadas e um entusiasmo que lembrava mais a energia de Copas Davis históricas do que a frieza dos torneios regulares do circuito. Desde então, cada edição reforçou esse caráter especial, seja em Chicago, Genebra, Vancouver ou Londres.
Talvez nada tenha simbolizado melhor o espírito da Laver Cup do que a cena de Federer e Nadal jogando duplas juntos em 2017 — algo que até então só existia em devaneios de fãs. Essa união de forças, que antes se enfrentavam nas batalhas mais intensas do circuito, mostrou ao mundo que o torneio era diferente. Em vez de rivalidades, havia camaradagem. Em vez de apenas pontos no ranking, havia espetáculo, emoção e uma narrativa de legado. O auge desse simbolismo veio em 2022, quando Federer escolheu a Laver Cup para encerrar sua carreira. A imagem dele ao lado de Nadal, ambos chorando de mãos dadas após a última partida, correu o mundo e se tornou uma das fotografias esportivas mais marcantes do século.
Fedal de volta?

Três anos depois de disputar o último torneio de sua carreira profissional na Laver Cup de 2022 em Londres, Roger Federer considera a hipótese de voltar às quadras de tênis, mas para disputar exibições com o amigo e rival, Rafael Nadal.
Em São Francisco, o suíço falou em entrevista à CNBC sobre a possibilidade de jogar mais vezes com o espanhol nos próximos anos.
“Sim, por que não? Eu adoro o Rafa. Joguei quatro horas de tênis há alguns dias em Los Angeles. E também mais uma hora e meia aqui em São Francisco. Tenho jogado bastante, então estou tentando me manter em boa forma”, disse Federer.
“Sei que o Rafa também está totalmente aberto a jogar tênis. Parece terrível pensar em circuito de Sêniors para nós, mas talvez possamos criar um circuito, como o Fedal Tour”, acrescentou o suíço.
“Um dos motivos pelos quais eu lancei a Laver Cup foi para valorizar os grandes nomes da história do esporte e há muito apetite do público para ver os campeões do passado”.
De olho no futuro
Mas a Laver Cup não se apoia apenas em memórias do passado. Se antes ela viveu da aura de Federer, Nadal, Djokovic e Murray, hoje já encontrou em uma nova geração a sua continuidade. Carlos Alcaraz e Jannik Sinner, por exemplo, já dividiram a quadra como parceiros de duplas pelo Time Europa, simbolizando a transição entre lendas aposentadas e jovens campeões de Grand Slam. Essa mudança garante que a competição não seja apenas um museu de recordações, mas também um palco onde o futuro do tênis se apresenta de maneira vibrante. Os organizadores têm conseguido equilibrar nostalgia e renovação, algo raro em um esporte tão preso à tradição.
Outro fator determinante para o sucesso é a forma como o torneio se encaixa no calendário. Programado estrategicamente após o US Open e antes da reta final da temporada, a Laver Cup não compete diretamente com grandes eventos, o que permite reunir estrelas sem comprometer seus planejamentos. Essa janela deu ao torneio uma força natural, capaz de atrair público, televisão e patrocinadores em escala global. O próprio Federer já revelou que uma das grandes preocupações na criação foi justamente evitar atritos com a ATP, e a decisão se provou acertada: hoje a competição não apenas é sancionada oficialmente como também tem o apoio de grandes marcas e cobertura maciça da mídia internacional.
Além disso, a Laver Cup soube explorar o espetáculo visual e emocional. Bancadas pintadas em preto, iluminação teatral, interação entre jogadores e treinadores em plena quadra — tudo pensado para criar uma atmosfera distinta, quase cinematográfica. O público responde com intensidade: em 2019, em Genebra, foram mais de 90 mil torcedores presentes nos três dias de disputa. Os números de audiência televisiva e de engajamento digital também dispararam, tornando o evento altamente rentável e desejado por cidades-sede ao redor do mundo.
Mais do que um torneio, a Laver Cup se consolidou como uma celebração do tênis. Ela transformou rivais em colegas de equipe, deu palco às despedidas mais emocionantes da história recente do esporte e agora abre caminho para que os novos ídolos construam memórias que ficarão para além das estatísticas. Se no início parecia apenas um capricho de Federer, hoje é impossível negar: a ideia virou fenômeno.
Tem Brasil em quadra!

Mais jovem a jogar na Laver Cup, o carioca João Fonseca está tendo uma semana inesquecível em São Francisco ao lado de alguns dos melhores jogadores do mundo na atualidade. De quebra, ele ainda teve um encontro com o suíço Roger Federer, um dos seus maiores ídolos no tênis.
“Foi um prazer. Acho que é uma oportunidade com a qual todo garoto que ama tênis sonha. Quando você conhece seu ídolo, é simplesmente incrível. Quando alguém me disse que eu iria conhecê-lo, minhas mãos começaram a suar e estava tão nervoso. Tivemos uma conversa divertida. Ele é um cara super legal. Sou muito grato pela oportunidade”, contou Fonseca.
O jovem de apenas 19 anos falou também sobre como foi a sua semana até agora e quais são as suas expectativas para o fim de semana.
“É um prazer estar com esses caras. O que eu quero dizer é que estou apenas ouvindo. Não estou copiando ninguém. Estou apenas ouvindo, adquirindo alguma experiência com eles e aprendendo muito”, afirmou Fonseca, que no fim de semana passado ajudou o Brasil a vencer a Grécia pela Copa Davis.
“Então, estou curtindo muito esta semana, estou aproveitando tudo o que posso como uma oportunidade para aprender e, quem sabe, conseguir a vitória para o Time Mundo, com certeza”, acrescentou o brasileiro, que atualmente ocupa a 42ª colocação no ranking.
Edição 2025

As equipes
Mundo: Taylor Fritz, Alex de Minaur, Francisco Cerúndolo, João Fonseca, Alex Michelsen e Reilly Opelka.
Capitão: Andre Agassi, Vice: Patrick Rafter
Europa: Carlos Alcaraz, Alexander Zverev, Holger Rune, Casper Ruud, Jakub Mensik e Flavio Cobolli.
Capitão: Yannick Noah, Vice: Tim Henman
O local
Há alternância de sedes entre Europa e outros continentes a cada temporada. O piso será sempre o sintético coberto. Neste ano, os jogos acontecem no Chase Center, em São Francisco. A organização do evento já confirmou que Londres receberá a edição pela segunda vez em 2026.
Premiação
Cada jogador da equipe campeã recebe uma premiação em dinheiro no valor de US$ 250 mil. Não há premiação específica para os jogadores do time que perder, mas existe também um cachê de participação para todos os tenistas com base nas posições no ranking após Roland Garros.
O histórico
Os europeus mantiveram a hegemonia da competição e conquistaram o título nas quatro primeiras edições, até que o Time Mundo pudesse vencer pela primeira vez em 2022, em Londres. O evento ficou marcado como o último torneio da carreira de Roger Federer, que foi escalado apenas nas duplas, ao lado de Rafael Nadal. Eles foram superados por Jack Sock e Frances Tiafoe por 4/6, 7/6 (7-2) e 11-9.
A primeira disputa foi em Praga, na República Tcheca, com vitória por 15 a 9. No ano seguinte, o torneio foi para Chicago, nos Estados Unidos, e o Time Europa fez 13 a 8. De volta ao território europeu em 2019, Federer teve a oportunidade de jogar em casa, em Genebra, e ajudou a equipe a vencer por 13 a 11, na edição mais equilibrada. O evento não aconteceu em 2020 por conta da pandemia e foi retomado em 2021. A disputa em Boston foi a mais desigual da história, com os europeus vencendo por 14 a 1 no placar final. Em 2023, o Time Mundo dominou, com 13 a 2 em Vancouver. Já no ano passado, em Berlim, a disputa foi equilibrada e os europeus venceram por 13 a 11.
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Ótimo e esclarecedor texto.