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Orlandinho e o ingrediente improvável que deu mais sabor à sua maior conquista em Roland Garros


Ivan Dodig e Orlando Luz
Foto: Ivan Dodig e Orlando Luz (Cedric Lecocq / FFT / Esporte News Mundo)

Orlando Luz viveu nesta edição de Roland Garros um daqueles capítulos que só o esporte é capaz de proporcionar. O gaúcho de 27 anos, ao lado do experiente croata Ivan Dodig, alcançou as quartas de final nas duplas masculinas do Grand Slam francês, mas o feito ganhou contornos épicos por um motivo inusitado: Luz perdeu suas lentes de contato logo após a estreia e precisou jogar o restante do torneio de óculos, com apenas 70% da visão.


O brasileiro, que tem ceratocone, uma condição que deforma a córnea e dificulta a visão, relatou o sufoco em entrevista à ESPN:

“Depois do primeiro jogo, eu perdi minhas lentes de contato e tive que começar a jogar de óculos a partir da 2ª rodada. Nunca tinha feito isso na minha vida.

A saga começou após a vitória na estreia, ainda com as lentes, sobre os franceses Geoffrey Blancaneaux e Valentin Royer. Mas, ao guardar as lentes na nécessaire, Luz não as encontrou mais.


“A gente se mobilizou entre os atletas para tentar encontrar, falamos com todo mundo, mas não deu certo”, contou. Sem as lentes, tentou treinar sem óculos, mas percebeu que seria impossível competir.

“Tive dois dias entre a primeira e segunda rodada. Eu treinei um dia sem óculos e vi que não tinha condições de entrar em quadra. Passou pela minha cabeça que eu não jogaria a segunda rodada. Jogar de óculos não era o ideal, mas a gente conseguiu dar a volta por cima”.

Mesmo com a visão comprometida, “com os óculos tenho apenas 70% da visão”, Orlandinho e Dodig eliminaram os alemães Kevin Krawietz e Tim Puetz, cabeças de chave número 3, e depois passaram pelo brasileiro Fernando Romboli e o australiano John Patrick Smith nas oitavas.


“Estou feliz que com a cabeça eu me mantive firme, que mesmo sem enxergar direito a bola, eu conseguiria vencer dos cabeças 3”, celebrou. O drama não era pequeno:

“Eu tenho 7,5 no olho esquerdo e 4,5 no olho direito, tenho ceratocone. É mais complicado. A forma da córnea é diferente, acabo enxergando muito embaçado. Eu descobri tarde, quase tive que fazer transplante de córnea”.

A adaptação foi forçada e nada confortável:

“Quando eu tive que entrar na quadra de óculos, foi muito tenso. Eu nunca tinha nem treinado de óculos, a profundidade é muito diferente. Até para dirigir à noite eu uso lente. Era o que tinha, as lentes já estão ficando prontas no Brasil”.

A campanha terminou nas quartas, diante dos favoritos Horacio Zeballos e Marcel Granollers, cabeças de chave número 5, por 2 sets a 0, 6/2 e 7/6 (7/3), em quase duas horas de partida. Mas o saldo foi mais do que positivo. Além de ser a primeira vez que Orlando alcança as quartas de final de um Grand Slam, o desempenho garantiu o melhor ranking da carreira, com o 54º lugar, subindo dez posições na tabela.

“O feito acaba ficando maior ainda. Ninguém sabia até agora. Essa é a história dos óculos, foi um acaso”, resumiu.

Após a campanha histórica, Orlando Luz fez um balanço da sua trajetória em Roland Garros:


"Foi uma semana muito positiva, melhor resultado da carreira. Foi muito bacana a parceria com o Dodig, muito feliz de verdade com tudo o que aconteceu nessas duas semanas. Acabei perdendo minha lente de contato, joguei de óculos, nunca tinha feito isso na minha vida, não é a visão boa, mas deu certo, boas vitórias, de verdade. Tive só coisas positivas para somar pro resto do ano. Agora tem mais desafios pela frente. Fico pela Europa, ainda não tenho calendário totalmente definido, tenho ideia de dois challengers nas próximas semanas, depois o ATP de Mallorca, na Espanha, depois Wimbledon depois os ATPs de Bastad e Umag. É seguir firme e treinando, esperar as lentes chegarem do Brasil, demora um tempo. Queria agradecer todo mundo que torceu aqui em Paris e do Brasil pela televisão e mandou energia positiva. Que continuem, fazendo isso pois queremos seguir alcançando resultados como esse, vamos buscar ainda mais", concluiu.



2 comentários

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Manolo
06 de jun.

para quem trabalha a anos vendendo óculos e tb usando-os para jogar ver uma situação dessas é no mínimo engraçada!


O uso do óculos para a prática do tênis principalmente na idade dele apresenta resultado igual ou superior no que que se refere a correção na graduação (ou dioptria) comparados com as lentes de contato!


Para um profissional nível ATP é no mínimo “juvenil” passar por este “perrengue” com tantas opções de armações (frames) e lentes graduadas disponíveis no mercado! Optando pelas lentes teria no mínimo de ter 2 ou 3 pares extras delas caso fosse precisar

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Pedro Felice
05 de jun.
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Só quem precisa jogar de lentes sabe a dificuldade de jogar de óculos... muda completamente.

Apesar disso ele foi muito bem e tiveram algumas chances de passar.

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