Loïs Boisson, uma das grandes histórias de Roland Garros 2025
- Raphael Favilla
- 6 de jun.
- 3 min de leitura

Loïs Boisson é, sem dúvida, uma das grandes histórias de Roland Garros 2025. A francesa de 22 anos, nascida em Dijon, entrou no torneio como 361ª do ranking mundial, convidada pela organização após um ano marcado por uma grave lesão no joelho que a tirou das quadras e a impediu de disputar o Grand Slam parisiense em 2024. Há 12 meses, Boisson estava em um hospital, se recuperando de uma cirurgia no joelho após romper o ligamento cruzado anterior durante um torneio em Paris, justamente quando se preparava para estrear na chave principal de Roland Garros. Ela sequer conseguiu assistir ao torneio pela TV, tamanha a frustração.
Recuperada, Boisson surpreendeu o mundo do tênis ao acumular cinco vitórias e chegar à semifinal, feito inédito para uma francesa desde Marion Bartoli, em 2011, e para uma wild card na era aberta do torneio. Ela também foi a semifinalista mais jovem da França em um Grand Slam desde Amélie Mauresmo, em 1999.
Sua campanha começou com uma vitória sobre Elise Mertens, 24ª do mundo, e seguiu com triunfos sobre nomes ainda mais expressivos do top 10, como Jessica Pegula (nº 3 do mundo) e Mirra Andreeva (nº 6), sempre impulsionada por uma torcida local apaixonada, que gritava "Loïs, Loïs", transformando a quadra Philippe Chatrier em um verdadeiro caldeirão a cada ponto decisivo.
A trajetória da francesa foi marcada por episódios que a tornaram ainda mais carismática para o público. Antes mesmo de Roland Garros, ela já havia ganhado manchetes por um fato inusitado: durante o Rouen Open, a britânica Harriet Dart pediu à árbitra que solicitasse à francesa o uso de desodorante, dizendo que ela "cheirava mal". O episódio viralizou, mas Boisson respondeu com bom humor, postando uma foto no Instagram com um desodorante digitalmente inserido e sugerindo um patrocínio com a Dove. Dart depois se desculpou publicamente.
A cada rodada, a atleta da casa foi conquistando mais espaço na mídia francesa e internacional. Sua vitória sobre Pegula, na quadra Philippe-Chatrier lotada, foi descrita como "cena de filme" pelo site oficial de Roland Garros. O público, que chegou devagar ao estádio, foi se aglomerando à medida que Boisson crescia no jogo, até transformar a quadra central em um caldeirão de apoio à francesa. Após a vitória sobre a norte-americana, ela descreveu a atmosfera da quadra central como "incrível", destacando o papel do público francês em sua arrancada: "Joguei três vezes na Chatrier e nunca havia vivido uma atmosfera assim. Eles nos impulsionam quando as coisas ficam difíceis em quadra. Quando o público está presente, isso faz a diferença".
Loïs se destacou pelo uso de topspin pesado, variação de efeitos e coragem para arriscar, especialmente com forehands angulados e drop shots. Jessica Pegula, após ser derrotada, elogiou a capacidade da francesa de "correr para buscar o forehand" e de "usar o slice e a deixadinha" para desestabilizar as adversárias.

Na semifinal, Boisson enfrentou Coco Gauff, número 2 do mundo, e acabou superada por 6/1 e 6/2. Em coletiva, reconheceu a superioridade da americana: "Ela jogou muito bem. Não sei nem como dizer, mas ela atacava pela direita, pela esquerda, pela direita de novo. Eu só sentia que estava correndo para todos os lados na quadra hoje, foi difícil. Ela foi muito sólida e eu não consegui impor meu jogo porque ela simplesmente estava em outro nível". Apesar da decepção pelo resultado, Boisson mostrou maturidade e perspectiva ao olhar para o futuro: "Não vai levar muito tempo, porque assim é o tênis. A gente precisa seguir em frente semana após semana. Então é melhor não demorar demais para digerir uma derrota. Mas nunca vivi uma semana tão intensa, física e emocionalmente. Por isso, é importante tirar um tempo para me recuperar. Não só pela derrota, mas por tudo o que vivi nessas duas semanas".
O feito da francesa garantiu um salto no ranking, colocando-a ao menos na 68ª posição, saltando quase 300 posições, o que permitirá disputar torneios mais fortes e mudar sua programação para o restante da temporada. Ela afirmou que não pretende alterar drasticamente sua rotina, já que "se cheguei até aqui, é porque as coisas estavam funcionando bem". O impacto de sua campanha foi tamanho que, por duas semanas, Loïs se tornou a esportista mais comentada da França, estampando capas de jornais e sendo celebrada como símbolo de esperança para o tênis feminino do país.
"Se me dissessem há duas semanas que eu estaria aqui, não acreditaria. Agora é real, e estou muito feliz", disse, após superar as quartas. “Roland Garros é um sonho e um objetivo. Não importa o que aconteça, depois do que vivi no ano passado, cada momento aqui é incrível.”
Por essas e outras que a história de Loïs Boisson, marcada por superação, leveza diante das adversidades e uma conexão rara com a torcida, entrou para o folclore de Roland Garros e do esporte francês.
Comentários